A Pedagogia Waldorf
entende que as crianças necessitam, para um desenvolvimento saudável e “livre”,
participar de rituais, independente da religião ou filosofia que estão
inseridas. Esta vivência regular forma a base para a religiosidade (re-ligação),
que se reflete no respeito ao próximo e na percepção de que há uma sabedoria e
uma ordem cósmica universal. Em diversas culturas, festividades e ritos são
realizados com a presença das crianças e suas famílias. Considerando todas as
religiões, Rudolf Steiner encontrou no Cristianismo, livre de qualquer
instituição formal, um dos caminhos para essa religiosidade. O sentimento de
religiosidade, que a criança traz consigo, é cultivado na celebração das festas
cristãs e através de cotidianos e simples gestos de gratidão a natureza.
Ao findar o carnaval damos
início a Quaresma, período de preparação para uma época bastante significativa
dentro do ciclo anual de festividades cristãs: a Páscoa. Ao pensarmos na Páscoa
é comum que tenhamos a mente invadida por diversas imagens: o coelho da páscoa,
os ovos de chocolate, a morte e ressurreição do Cristo. Mas, qual o sentido que
podemos atribuir a todas essas imagens? Que relações somos capazes de estabelecer
com todas elas? Que elemento universal permeia essa época?
Na realidade atual que nos
toca, vemos uma cultura consumista ganhando cada vez mais força e fazendo-se
hegemônica. Vemos o fenômeno da mercantilização expandir-se, atingindo nosso
cotidiano, querendo transformar tudo e todos em “coisas”. Dentro dessa lógica,
são muitas as tentativas de reduzir a Páscoa a um evento puramente exterior, um
evento de consumo. Essa roupagem comercializada não é capaz de preencher a
nossa alma. Não alimenta o nosso espírito. E é no sentido contrário a essa
corrente tão forte que vemos remar a Pedagogia Waldorf.
A Pedagogia Waldorf nos
convida a um mergulho profundo nas nossas tradições e nos aponta caminhos de
interpretações que podem nos conduzir a uma vivência espiritual dessas
festividades cósmicas.
Através da relação entre a
imagem da lagarta que se transforma em borboleta e do Cristo que ressuscita, por
exemplo, somos levados a uma interiorização do simbolismo que sustenta este
acontecimento cristão. A ressurreição do Cristo, tal qual a transformação da
borboleta, nos fala da necessidade de deixarmos morrer em nós o que precisa ser
transformado.
Viver implica morrer. Não
há vida sem morte. A imagem da transmutação da borboleta, por ser tão natura e
orgânica, é que se faz tão poderosa e reveladora, traduzindo com simplicidade,
veracidade e beleza, para adultos e crianças, o simbolismo desta época.
Uma boa Páscoa!
Carinhosamente,
Jardim
Alecrim Recife
Tu tens um medo: acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Cecília Meireles