domingo, 20 de abril de 2014

Época da Páscoa


A Pedagogia Waldorf entende que as crianças necessitam, para um desenvolvimento saudável e “livre”, participar de rituais, independente da religião ou filosofia que estão inseridas. Esta vivência regular forma a base para a religiosidade (re-ligação), que se reflete no respeito ao próximo e na percepção de que há uma sabedoria e uma ordem cósmica universal. Em diversas culturas, festividades e ritos são realizados com a presença das crianças e suas famílias. Considerando todas as religiões, Rudolf Steiner encontrou no Cristianismo, livre de qualquer instituição formal, um dos caminhos para essa religiosidade. O sentimento de religiosidade, que a criança traz consigo, é cultivado na celebração das festas cristãs e através de cotidianos e simples gestos de gratidão a natureza.

Ao findar o carnaval damos início a Quaresma, período de preparação para uma época bastante significativa dentro do ciclo anual de festividades cristãs: a Páscoa. Ao pensarmos na Páscoa é comum que tenhamos a mente invadida por diversas imagens: o coelho da páscoa, os ovos de chocolate, a morte e ressurreição do Cristo. Mas, qual o sentido que podemos atribuir a todas essas imagens? Que relações somos capazes de estabelecer com todas elas? Que elemento universal permeia essa época?

Na realidade atual que nos toca, vemos uma cultura consumista ganhando cada vez mais força e fazendo-se hegemônica. Vemos o fenômeno da mercantilização expandir-se, atingindo nosso cotidiano, querendo transformar tudo e todos em “coisas”. Dentro dessa lógica, são muitas as tentativas de reduzir a Páscoa a um evento puramente exterior, um evento de consumo. Essa roupagem comercializada não é capaz de preencher a nossa alma. Não alimenta o nosso espírito. E é no sentido contrário a essa corrente tão forte que vemos remar a Pedagogia Waldorf.

A Pedagogia Waldorf nos convida a um mergulho profundo nas nossas tradições e nos aponta caminhos de interpretações que podem nos conduzir a uma vivência espiritual dessas festividades cósmicas.

Através da relação entre a imagem da lagarta que se transforma em borboleta e do Cristo que ressuscita, por exemplo, somos levados a uma interiorização do simbolismo que sustenta este acontecimento cristão. A ressurreição do Cristo, tal qual a transformação da borboleta, nos fala da necessidade de deixarmos morrer em nós o que precisa ser transformado.
Viver implica morrer. Não há vida sem morte. A imagem da transmutação da borboleta, por ser tão natura e orgânica, é que se faz tão poderosa e reveladora, traduzindo com simplicidade, veracidade e beleza, para adultos e crianças, o simbolismo desta época.

Uma boa Páscoa!

Carinhosamente,
Jardim Alecrim Recife

Tu tens um medo: acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor. 
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.


Cecília Meireles